quinta-feira, 22 de agosto de 2013

III EIA elabora duas moções de repúdio e uma carta à sociedade

As mais de 80 palestras, oficinas e mesas de discussões em quatro dias de evento. O III Encontro Internacional de Agroecologia, realizado em Botucatu, entre os dias 31 de julho e 3 de agosto, renderam muitos frutos, entre eles a elaboração de três documentos. Duas moções de repúdio e uma carta à sociedade.

Uma das moções de repúdio é contra a forma como foi proposta e vem sendo conduzida a formação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Expansão Rural (Anater). De acordo com o doutor em Agroecologia e organizador do III EIA, Rodrigo Machado Moreira, as consultas e as indicações feitas pela sociedade e especialistas durante mais de 10 anos na construção da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER estão sendo solenemente ignoradas. “Não é possível ouvir a sociedade e depois mudar tudo”, lamenta.

A Anater foi aprovada por unanimidade na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, no último dia 7 de agosto.

“Questionamos radicalmente essa interpretação que fundamenta a criação da ANATER. Em primeiro lugar, porque a maior parte do acervo tecnológico desenvolvido pelo SNPA (Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária)não se ajusta à realidade da agricultura familiar e povos e comunidades tradicionais por induzi-los a crescente dependência ao sistema financeiro e agroindustrial. Tanto isso é verdade que a parcela da agricultura familiar que vem incorporando as referidas tecnologias da modernização com apoio das políticas do Estado estão cada vez mais dependentes do financiamento público para reproduzirem seus sistemas de produção. O expressivo aumento dos índices de endividamento da agricultura familiar nos últimos anos é uma expressão inequívoca desse fenômeno”, diz trecho do documento. Leia na íntegra aqui.

Outra moção de repúdio é contra o Projeto de Lei 5575/2009, do deputado Cândido Vacarezza (PT/SP) que pretende liberar o uso e produção de sementes Terminator no Brasil. Além da moção, a organização criou uma petição pública para combater o assunto. Leia a moção aqui.

“A aprovação pouco cuidadosa do cultivo de transgênicos no país configura-se como um dos exemplos mais concretos de imposição tecnológica, que tem como resultado a degradação dos recursos naturais e o desrespeito aos direitos humanos, econômicos, culturais e sociais essenciais. Dentre as possibilidades de transgenia, uma das mais preocupantes em estudo e desenvolvimento pelas grandes multinacionais na área de sementes trata das Tecnologias de Restrição de Uso Genético, mais conhecida como tecnologia Terminator. Essa tecnologia visa desenvolver cultivares incapazes de germinar em sua segunda geração, ou seja, quando os grãos colhidos são replantados pelos agricultores - caracterizando o que popularmente se difundiu como “sementes suicidas”. A tecnologia visa reforçar a privatização das sementes, fortalecendo a capacidade de cobrança de royalties por parte das empresas, impedindo os agricultores de multiplicarem suas sementes e obrigando-os a adquirir em todas as safras sementes patenteadas”, diz trecho do documento.

Para ler a íntegra e assinar a petição, clique aqui.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Participantes destacam qualidade, organização e alto nível de debates

Os participantes do III Encontro Internacional de Agroecologia (EIA) não pouparam elogios ao evento, principalmente pelo alto nível de organização, discussões, palestras e troca de experiências. O III EIA reuniu mais de 2300 pessoas, entre acadêmicos, técnicos, pesquisadores, estudantes e agricultores ligados às experiências em Agroecologia no Brasil e outros países latino-americanos, em Botucatu, entre os dias 31 de julho e 3 de agosto.

O pós-graduando da Esalq de Piracicaba, André Iamamoto (33), destacou o crescimento do evento. “Estive nas três edições (2000, 2006 e 2013) e é um evento que se posiciona como um dos mais importantes no tema. Interessante como a conjuntura política atual é diferente das demais e o evento acompanhou essas mudanças e promoveu bons debates também sobre a esfera pública. Gostei muito da programação”, declara.

Para o dirigente nacional do Movimentos dos Sem-Terra (MST), Delvek Matheus, o evento foi de alto nível. “Foi um grande evento em todos os sentidos. Das palestras e discussões à representatividade. É um marco para a Agroecologia”, analisa.

De acordo com a organizadora, Beatriz Stamato, o EIA atingiu os objetivos. “Articulamos com muitas entidades e instituições. O crescimento no número e qualidade dos palestrantes e participantes demonstra como a Agroecologia é um tema pertinente e uma alternativa viável para o estabelecimento de uma política nacional de Agroecologia, agricultura familiar e desenvolvimento sustentável”.

Entre os objetivos o III EIA situou a Agroecologia como marco teórico e metodológico para a consolidação de estratégias de desenvolvimento rural sustentável; promoveu a articulação entre iniciativas e programas sobre o tema realizados no Brasil e em outros países da América Latina; discutiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica; e debateu o currículo de formação em Agroecologia nos cursos de graduação e pós-graduação.

O evento foi uma realização da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp - Campus de Botucatu -, Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais e Instituto Giramundo Mutuando. Apoio, Prefeitura Municipal de Botucatu.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Organização utiliza materiais sustentáveis e fará neutralização de carbono


A Comissão Organizadora do III Encontro Internacional de Agroecologia (EIA) está sendo cuidadosa e consciente em disseminar e aplicar conceitos e ações sustentáveis. Todos os 10 mil copos descartáveis e os crachás dos dois mil participantes são sustentáveis, além disso, serão plantadas 250 mudas de árvores de espécies nativas como forma de neutralizar a emissão de carbono durante o evento.

Os copos são produzidos em papel, os crachás são desenvolvidos em papel semente, um papel reciclado, ecológico, artesanal com sementes de flores boca de leão, o que o torna plantável.

Para a neutralização de carbono são plantadas 250 árvores de espécies nativas, em propriedades de agricultura familiar e assentamentos da reforma agrária da região de Botucatu. Mudas e sementes também serão distribuídas aos visitantes da feira Saberes e Sabores, que acontece nos dias 1,2 e 3 de agosto, das 10h às 22h, no largo da Catedral de Botucatu.

A neutralização do carbono é a tentativa de compensar a emissão de gás carbônico com o plantio de árvores, já que são capazes de consumir o CO2 da atmosfera.

A organização também se preocupa com a coleta seletiva e a correta destinação do lixo produzido durante o evento, por isso, durante todo o EIA há latas de lixo para o descarte correto do lixo. O material reciclável será destinado à cooperativa dos coletores de Botucatu.

De acordo com a organização, as ações são essenciais para que as pessoas se identifiquem com a construção de uma sociedade mais justa e consciente de suas responsabilidades sociais e ambientais.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Palestras destacam movimentos sociais, desafios e possibilidades da agroecologia

Angell Calle Collado
As primeiras palestras do III Encontro Internacional de Agroecologia (EIA) deram o tom que deve permear os demais dias do evento. A abertura aconteceu na quarta (31), no Ginásio do Colégio Santa Marcelina (leia aqui). O III EIA segue até sábado, 3 de agosto, em Botucatu-SP.

A primeira palestra foi do professor Angel Calle Collado, da Universidade de Córdoba, que falou sobre “Democracia Radical e Movimentos Sociais na Construção da Transição Agroecológica”. De acordo com ele, os movimentos sociais em todo o mundo demonstram que a sociedade quer um novo modo de vida. 
Maria Noel Salgado

“São movimentos em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo; demonstram que todos estão descontentes com a forma que vivemos atualmente”.

Os “Desafios do Movimento Agroecológico: a soberania dos pequenos produtores de alimentos para a soberania dos povos frente ao capitalismo” foi o tema da plenária da professora Maria Noel Salgado, membro do Comitê Político Continental do Maela.

Stédile, representante do (MST)
O economista João Pedro Stédile, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) falou sobre o ‘Campesinato Agroecológico e os Desafios e Possibilidades da Via Campesina’. Segundo ele, o agronegócio não produz alimentos, apenas mercadorias, mecanizando o campo, investindo em monoculturas e patentes de sementes geneticamente modificadas, com o objetivo de vender um pacote tecnológico e tornar os produtores dependentes. “No sentido agronômico é inviável a mistura de sementes caboclas com transgênicas”, diz.

Para o representante do MST, ninguém em sã consciência quer trabalhar para o agronegócio. “Quem quer viver jogando de veneno no solo?”, questiona. E acusa a grande Imprensa, “há na grande Imprensa o desejo de embutir no pensamento das pessoas que o agronegócio é a salvação para o Brasil, mas isso porque são todos grandes grupos econômicos”, lamenta. E criticou duramente as organizações do agronegócio. "O Blairo Maggi tem mais de 240 mil hectares de soja, sem nenhuma outra espécie ou praga, isso só se consegue com uso indiscriminado de venenos agrícolas, importados dos mais variados países do mundo. Esse tipo de negócio não se sustenta". 

Vandana Shiva, contra o agronegócio e a biopirataria
A ativista indiana Vandana Shiva comentou sobre como deixou de lado sua formação como Física e começou a atuar como ativista ambiental. “Houve uma grande tragédia na Índia, em 1984, mas o mundo pouco falou sobre isso”. Ela citava a tragédia de Bhopal, um desastre industrial que ocorreu em 3 de dezembro de 1983, quando 40 toneladas de gases tóxicos vazaram na fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide. É considerado o pior desastre industrial ocorrido até hoje, quando mais de 500 mil pessoas, a maioria trabalhadores, foram expostas aos gases. Houve num primeiro momento cerca de 3 mil mortes diretas, mas estima-se que outras 10 mil ocorreram devido a doenças relacionadas à inalação do gás.

Desde de 83, Vandana dedica-se às causas ecológicas e agroecológica, bem como agricultura familiar e contra o uso de sementes transgênicas. “De acordo com a a ONU, 70% dos alimentos são produzidos pela agricultura familiar, é uma burrice expulsar as pessoas do campo para produção de combustíveis, e mercadorias agrícolas que não servem para alimentar a população. Querem transformar sementes em produtos, quando tudo isso já existia, isso é biopirataria”, explica.

Homenagem a Ana Primavesi marca abertura do III EIA

Ginásio tomado por participantes do III EIA
A abertura do III Encontro Internacional de Agroecologia, na quarta-feira (31), no Ginásio do Colégio Santa Marcelina, em Botucatu-SP, foi inesquecível. Da presença de personalidades da área e autoridades locais, nacionais e internacionais, à homenagem à professora doutora Ana Primavesi – considerada a precursora da Agroecologia, o evento foi marcado pela emoção, reconhecimento e pela grande troca de conhecimento e informações.

O vice-prefeito de Botucatu, professor Caldas, destacou que a Cidade discute e vive a Agroecologia e a agricultura familiar e orgânica. “A grandeza deste encontro (EIA) se confirma. Botucatu agradece pela parceria com grandes e importantes instituições para se firmar como uma Cidade importante no debate e aplicação da Agroecologia”.

Ana Primavesi – considerada a precursora da Agroecologia
O Professor da Universidade Berkeley (EUA) e coordenador da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia, Miguel Altieri, reforçou que a transição agroecológica já começou na América Latina e que o III EIA é a oportunidade de continuá-la. “São pessoas e importantes organizações reunidas para finalizar essa transição”, disse.

Paulo Peterson, da Articulação Nacional em Agroecologia (ANA) destacou a importância que a Agroecologia está ganhando. “Está sendo incorporada por instituições e este encontro (III EIA) é importante por possibilitar o debate sobre esse momento de transição, em que o Governo Federal anuncia o lançamento do Programa Nacional de Agroecologia, e que ao mesmo tempo interrompe o programa de reforma agrária. É um momento de avanços e contradições”.

Músicos interpretam músicas do Cancioneiro do EIA
O economista João Pedro Stédile, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) cita que Botucatu é uma trincheira em defesa dos trabalhadores rurais e agricultores familiares contra o agronegócio. “Vamos salvar o planeta da ganância do Capital”.

O representante do Instituto Giramundo e organizador do III EIA, o doutor em Agroecologia, Rodrigo Machado Moreira, citou o crescimento do evento e do tema em relação às edições e anos anteriores, mas lamentou a situação global e nacional em relação ao Ensino da Ciência Agroecológica. “Em um momento em que o império do agronegócio expandiu do agro alimentar para o agro combustível, com a crise sócio-ambiental, no Brasil, mesmo com mais de 600 cursos superior de Ciências Agrárias temos que criar cursos de Agroecologia, pois a ciência parece ser a barreira mais lenta e incorporar os avanços”, declara. "Mas estamos em um momento muito importante para a agroecologia e e o crescimento e maturidade do EIA demonstram isso".

Segurança alimentar e palestra com Miguel Altieri marcam segundo dia do III EIA

Primeiro dia do III EIA
O III Encontro Internacional de Agroecologia (EIA) prossegue nesta quinta-feira (1), com palestras e mesas redondas. O evento, que segue até o próximo sábado (3), reúne mais de dois mil participantes e está sendo realizado em Botucatu-SP.

Três palestras serão realizadas no período da manhã, no ginásio do Colégio Santa Marcelina.

Às 8 horas, a presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), Maria Emília Pacheco, fala sobre “Agroecologia para a Soberania Alimentar”, às 8h.


Em seguida, às 8h50, será discutido o tema ‘Desafios e Possibilidades para a Transição Agroecológica na América Latina", com o pesquisador da Universidade de Berkeley/Califórnia, Miguel Altieri - coordenador da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia.

Às 11 horas a professora Eva Torremocha, da Universidade Politécnica de Catalunia, fala sobre “Os desafios e as Potencialidades dos Sistemas Participativos de Garantia na Europa, América Latina e Outros Continentes”.

A feira Saberes e Sabores instalada no Largo da Catedral Metropolitana funciona das 10h às 22h, com intervenções artísticas, exposição de Trabalhos, divulgação de políticas públicas de apoio e incentivo à agricultura familiar, venda de alimentos provenientes da agricultura familiar e orgânica, distribuição de mudas e praça de alimentação.

O III EIA reúne dois mil acadêmicos, técnicos, pesquisadores, estudantes e agricultores ligados às experiências em Agroecologia no Brasil e outros países de cinco continentes para um amplo e profundo debate com o foco direcionado para o intercâmbio de conhecimentos técnico-científicos e populares com o tema “Redes para Transição Agroecológica na América Latina”.

Leia a programação completa aqui.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Vandana Shiva concede entrevista coletiva, nesta quarta, em Botucatu.



A organização do III Encontro Internacional de Agroecologia promove uma entrevista coletiva com a palestrante Vandana Shiva (foto), na próxima quarta-feira (31), às 16 horas, no Colégio Santa Marcelina.

Vandana Shiva é Física, Ecofeminista e ativista ambiental. Na década de 1970, participou do movimento Mulheres de Chipko, formado por mulheres que adotaram a tática de se amarrar às árvores para impedir a derrubada e o despejo de lixo atômico naquela região. Foi uma das líderes do International Forum on Globalization, e recebeu o Right Livelihood Award em 1993, considerado uma versão alternativa do Prêmio Nobel da Paz.
Diretora da Research Foundation for Science, Technology, and Ecology, em Nova Déli, é autora de inúmeros livros, e figura de destaque no movimento anti-globalização e consultora para questões ambientais da Third World Network.
Entre suas atividades mais recentes, incluem-se iniciativas de ampla divulgação para a preservação das florestas da Índia, luta em favor das sementes como patrimônio da humanidade e programas sobre biodiversidade dirigidos a diferentes coletividades, além de pesquisas para o desenvolvimento de uma nova estrutura legal para os direitos de propriedade coletivos, como alternativa para os sistemas de direitos de propriedade intelectual atualmente em vigor.
O evento é uma realização da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp - Campus de Botucatu -, Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais e Instituto Giramundo Mutuando. Apoio: Prefeitura Municipal de Botucatu
Outros palestrantes -  Miguel Altieri, pesquisador da Universidade de Berkeley/Califórnia e coordenador da Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia; Eduardo Sevilla Guzmán, catedrático do Instituto de Sociologia e Estudos Campesinos da Universidade de Córdoba; Victor Manuel Toledo, pesquisador reconhecido no debate mundial sobre agrobiodiversidade e conhecimento popular.
 
Dentre os participantes brasileiros está Francisco Roberto Caporal, professor doutor da Universidade Federal Rural do Pernambuco, reconhecido internacionalmente pela sua influência no grupo idealizador da nova Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural do Brasil - PNATER.

Serviço: Entrevista Coletiva Vandana Shiva
Data: Quarta-feira (31), às 16 horas.
Local: Colégio Santa Marcelina -  Rua Costa Leite, nº 548 – Centro – Botucatu – SP