quarta-feira, 31 de julho de 2013

Palestras destacam movimentos sociais, desafios e possibilidades da agroecologia

Angell Calle Collado
As primeiras palestras do III Encontro Internacional de Agroecologia (EIA) deram o tom que deve permear os demais dias do evento. A abertura aconteceu na quarta (31), no Ginásio do Colégio Santa Marcelina (leia aqui). O III EIA segue até sábado, 3 de agosto, em Botucatu-SP.

A primeira palestra foi do professor Angel Calle Collado, da Universidade de Córdoba, que falou sobre “Democracia Radical e Movimentos Sociais na Construção da Transição Agroecológica”. De acordo com ele, os movimentos sociais em todo o mundo demonstram que a sociedade quer um novo modo de vida. 
Maria Noel Salgado

“São movimentos em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo; demonstram que todos estão descontentes com a forma que vivemos atualmente”.

Os “Desafios do Movimento Agroecológico: a soberania dos pequenos produtores de alimentos para a soberania dos povos frente ao capitalismo” foi o tema da plenária da professora Maria Noel Salgado, membro do Comitê Político Continental do Maela.

Stédile, representante do (MST)
O economista João Pedro Stédile, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) falou sobre o ‘Campesinato Agroecológico e os Desafios e Possibilidades da Via Campesina’. Segundo ele, o agronegócio não produz alimentos, apenas mercadorias, mecanizando o campo, investindo em monoculturas e patentes de sementes geneticamente modificadas, com o objetivo de vender um pacote tecnológico e tornar os produtores dependentes. “No sentido agronômico é inviável a mistura de sementes caboclas com transgênicas”, diz.

Para o representante do MST, ninguém em sã consciência quer trabalhar para o agronegócio. “Quem quer viver jogando de veneno no solo?”, questiona. E acusa a grande Imprensa, “há na grande Imprensa o desejo de embutir no pensamento das pessoas que o agronegócio é a salvação para o Brasil, mas isso porque são todos grandes grupos econômicos”, lamenta. E criticou duramente as organizações do agronegócio. "O Blairo Maggi tem mais de 240 mil hectares de soja, sem nenhuma outra espécie ou praga, isso só se consegue com uso indiscriminado de venenos agrícolas, importados dos mais variados países do mundo. Esse tipo de negócio não se sustenta". 

Vandana Shiva, contra o agronegócio e a biopirataria
A ativista indiana Vandana Shiva comentou sobre como deixou de lado sua formação como Física e começou a atuar como ativista ambiental. “Houve uma grande tragédia na Índia, em 1984, mas o mundo pouco falou sobre isso”. Ela citava a tragédia de Bhopal, um desastre industrial que ocorreu em 3 de dezembro de 1983, quando 40 toneladas de gases tóxicos vazaram na fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide. É considerado o pior desastre industrial ocorrido até hoje, quando mais de 500 mil pessoas, a maioria trabalhadores, foram expostas aos gases. Houve num primeiro momento cerca de 3 mil mortes diretas, mas estima-se que outras 10 mil ocorreram devido a doenças relacionadas à inalação do gás.

Desde de 83, Vandana dedica-se às causas ecológicas e agroecológica, bem como agricultura familiar e contra o uso de sementes transgênicas. “De acordo com a a ONU, 70% dos alimentos são produzidos pela agricultura familiar, é uma burrice expulsar as pessoas do campo para produção de combustíveis, e mercadorias agrícolas que não servem para alimentar a população. Querem transformar sementes em produtos, quando tudo isso já existia, isso é biopirataria”, explica.

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